Sensacional a contribuição de um amigo "das Letras" à reflexão do curso de Letras no Brasil, quiçá no mundo, atentando para a situação da educação em geral no Brasil. Segue seu texto na íntegra.
"Atendendo
 a pedidos, publico aqui o texto da minha conferência no EBREL. Está liberado 
para divulgação ampla e irrestrita."
 
 CURSO DE LETRAS? PRA QUÊ?
 MARCOS BAGNO
 
 Vou começar essa conversa com uma afirmação clara e simples: a situação
 dos nossos cursos de Letras é catastrófica. Qualquer um: seja de 
universidade pública prestigiada em grande capital, seja de pequena 
faculdade isolada no sertão, a diferença é pouca. É doloroso ter que 
admitir isso. É angustiante, para uma pessoa apaixonada pelo estudo da 
linguagem em todas as suas manifestações, ter de escrever essas 
palavras: os nossos cursos de Letras são uma catástrofe. Por quê?
 
Para começar, o próprio nome — Letras — revela um apego a concepções de 
educação e de formação de cidadãos (no masculino mesmo) que vigoravam no
 século XIX e que, depois de tantas revoluções ocorridas nas ciências e 
nas sociedades humanas, não tem mais nenhuma justificação séria para 
continuar existindo. É deprimente saber que a pessoa que conquistou uma 
vaga num curso de Letras vai ingressar numa estrutura acadêmica 
obsoleta, anacrônica, que foi delineada há pelo menos duzentos anos. 
 O estudo das “Letras” ou das “Belas Letras”, como também se dizia, era 
regido por ideias e ideais muito elitistas, aristocráticos (além de 
sexistas, já que as mulheres não estavam incluídas neles), por critérios
 antiquados de elegância e bom gosto, o que fica evidente já pelo uso do
 adjetivo “belas”. O que se cultivava e cultuava nas “Belas Letras” era 
uma literatura clássica, toda composta de autores devidamente mortos e 
enterrados: só merecia estudo a “grande” prosa, a “grande” poesia, a 
“grande” dramaturgia... Literatura oral? Nem pensar! Literatura 
alternativa, marginal, transgressora? Deus nos livre! Literatura escrita
 por mulher? Imagine! Desde quando as mulheres escrevem coisa séria? 
Literatura de autor vivo? De jeito nenhum: era preciso que ele fosse 
devidamente “imortalizado” pelas Academias de Letras (que não têm esse 
nome por acaso, já que também são instituições elitistas, anacrônicas e 
obsoletas).
 No que dizia respeito às línguas, o espírito (ou o 
fantasma?) era o mesmo. Só eram estudadas as línguas “clássicas” (o 
latim, o latim e principalmente o latim... o grego, só para os gênios 
mais ousados), as línguas modernas mais prestigiadas (o francês, o 
francês e principalmente o francês...) e, no tocante ao português, única
 e exclusivamente a língua considerada “correta”, “pura” e “elegante”, 
sempre colhida da obra daqueles mesmos “grandes” escritores. Com isso, o
 ciclo se fechava sem nenhum atrito nem aperto: “literatura” era só um 
conjunto seleto de obras que, por sua vez, eram escritas num modelo 
muito restrito de “língua correta” que, por sua vez, era a única 
manifestação merecedora do rótulo de “língua portuguesa”. Daí o nome de 
“Letras”: só o que era escrito, e escrito por poucos, era objeto de 
estudo.
 A Faculdade de Letras de Paris, por exemplo, oferecia os 
seguintes cursos quando foi criada, em 1808: Literatura Grega; 
Eloquência Latina; Poesia Latina; Eloquência Francesa; Poesia Francesa. 
Precisa de comentários?
 No que diz respeito ao estudo do português, é
 preciso lembrar que a inclusão da língua portuguesa como disciplina 
curricular (nas escolas e nas faculdades) só ocorreu no Brasil nas 
últmas décadas do século XIX, já no final do Império. Tratado 
exclusivamente em sua vertente literária consagrada, o português era 
estudado com a mesma metodologia empregada para o estudo das línguas 
mortas: dissecado em frases soltas, por sua vez dissecadas em seus 
elementos constitutivos que eram devidamente rotulados de acordo com as 
classificações herdadas da gramática grega e latina. Tarefas como fazer a
 análise sintática de estrofes d’Os Lusíadas ou do Hino Nacional 
Brasileiro eram o padrão. Qualquer semelhança com a autópsia de um 
cadáver não é mera coincidência! Não espanta o horror que as “aulas de 
português” provocavam (e ainda provocam) em tanta gente. 
 Com o 
surgimento da ciência linguística moderna, no início do século XX, 
poderíamos imaginar que uma grande revolução abalaria essa arquitetura 
aristocrática, derrubando os velhos templos beletristas neoclássicos, 
mofados e insalubres, para, no lugar deles, se erguerem edifícios 
arejados, iluminados, funcionais, onde a ciência poderia transitar à 
vontade. Nada disso, porém, aconteceu. A disciplina chamada Linguística 
só foi incorporada ao currículo oficial dos cursos de Letras no Brasil 
no ano de 1961. Quando a Faculdade de Letras da Universidade de São 
Paulo foi criada, em 1934, um dos formuladores do currículo escreveu que
 era preciso ensinar português correto aos brasileiros porque falavam 
muito mal a língua. Está lá, nos registros. E é com esse espírito 
colonizado que a grande maioria dos nossos cursos de Letras vive até 
hoje. Basta conversar com alguns docentes mais antigos da UnB para 
verificar isso.
 Os estudos científicos foram sendo incorporados aos 
cursos de Letras no Brasil de maneira desordenada, sem planejamento 
curricular adequado, simplesmente com o acréscimo de uma disciplina 
aqui, outra ali, mais algumas acolá. Não é por outra razão que o nome do
 curso permaneceu intacto, mesmo com a anexação de disciplinas 
provenientes de perspectivas científicas mais atualizadas. Se a gente 
investigar a lista das unidades acadêmicas das grandes universidades 
brasileiras, vai topar sempre, em todas elas, com alguma coisa do tipo 
Faculdade de Letras ou Instituto de Letras. Exceção digna de nota é o 
Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Unicamp (Universidade 
Estadual de Campinas), e seu caráter excepcional se deve, entre outras 
coisas, ao ano de sua criação (1976), no âmbito de um projeto 
universitário inovador para a época. Mesmo assim, o IEL oferece 
atualmente uma graduação em... Letras!
 Em vez de se promover a 
implosão do curso de Letras, totalmente inadequado para abrigar as novas
 concepções científicas do século XX, o que se promoveu foram 
“puxadinhos”, como muitas pessoas costumam fazer em suas casas: para não
 ter de derrubar um imóvel e reconstruí-lo de maneira a torná-lo 
adequado aos fins que se deseja para ele, vai se construindo novos 
cômodos e anexando eles na casa já existente. Assim, os cursos de Letras
 começaram a se tornar o que são até hoje: verdadeiros Frankensteins 
acadêmicos.
 Muitos dos profissionais que atuam nos cursos de Letras 
parecem se negar (consciente ou inconscientemente) a admitir que a 
vocação natural do curso é a formação de docentes de português e/ou de 
línguas estrangeiras, numa recusa que se contrapõe às diretrizes do 
próprio Ministério da Educação no que diz respeito à formação docente. 
Os mestres e doutores que professam nas Letras se comportam como se 
estivessem ali para formar grandes escritores e críticos literários, ou 
filólogos e gramáticos do perfil mais tradicional possível. Alguns 
poucos, bem intencionados, mas iludidos, acreditam que vão formar 
futuros linguistas, pesquisadores sintonizados com a ciência moderna. 
Com isso, somos obrigados a ministrar, como professores, e a cursar, 
como estudantes, disciplinas totalmente irrelevantes para a formação 
docente e, ao mesmo tempo, deixamos de lado todo um conjunto de teorias e
 práticas que são de primeiríssima necessidade para que alguém que se 
forme em “Letras” possa trabalhar em conexão com o que se espera, hoje, 
de um professor de língua. 
 Aqui na UnB, por exemplo, muitas das 
disciplinas de sintaxe são dadas exclusivamente na perspectiva do 
gerativismo chomskiano, uma teoria linguística que, por mais 
interessante que seja do ponto de vista filosófico, não tem contribuição
 nenhuma a dar para alguém que, saindo da universidade, vai ter que 
enfrentar a prática da sala de aula. A tentativa que se fez, nos anos 
1970, de aplicar o gerativismo ao ensino de português foi um estrondoso 
desastre. Valeria mais a pena usar esse precioso tempo de formação para o
 estudo aprofundado e crítico da tradição gramatical, que ainda domina 
com muito vigor o imaginário social acerca de língua e linguagem. O 
resultado é que as pessoas se formam em Letras sem dominar a teoria 
gerativa (o que, aliás, é impossível porque seu fundador destrói e 
reconstrói regularmente a teoria a cada tantos anos...) e sem conhecer a
 tradição gramatical (o que seria importantíssimo), mas somente um 
conjunto de afirmações pejorativas a respeito dela, que em nada 
contribuem para a formação de quem vai ter que lidar com a gramática em 
sua vida profissional.
 Em contrapartida, aqui e em praticamente 
todos os cursos de Letras, milhares de estudantes saem da universidade 
sem sequer ter ouvido falar (ou tendo ouvido falar muito vagamente) de 
gramaticalização, pragmática, discurso, letramento, gênero textual, 
enunciação, sociocognitivismo, sociointeracionismo, sociologia da 
linguagem, políticas linguísticas, crioulização, diglossia, teorias da 
leitura, relações fala/escrita... áreas de pesquisa e de ação 
fundamentais para que se tenha uma visão coerente do que é uma língua e 
do que significa ensinar língua. 
 Para piorar, essas mesmas pessoas 
também saem acreditando que existe “oração sem sujeito” e “sujeito 
oculto”, que existe uma “voz passiva sintética”, uma “terceira pessoa do
 discurso”, uma diferença entre “adjunto adnominal” e “complemento 
nominal”, acreditando que as palavras porém, todavia, contudo são 
“conjunções adversativas”, e outros mitos e superstições que nossa 
tradição gramatical insiste em preservar e que os cursos de Letras não 
se empenham, como deveriam, em criticar e substituir por conceitos mais 
afinados com a teorização e com a pesquisa científica contemporâneas. A 
probabilidade de encontrar um recém-diplomado em Letras que saiba 
explicar, por exemplo, o que é um fonema sem repetir o erro teórico de 
que se trata de um “som da língua” é quase a mesma de encontrar uma 
agulha num palheiro. Mais desastroso ainda é encontrar essa definição 
completamente equivocada na maioria dos livros didáticos (escritos por 
pessoas formadas em... Letras).
 Na grande maioria dos cursos, o 
único contato que o estudante tem com a ciência da linguagem e sua 
história se dá através de uma disciplina chamada “Introdução à 
Linguística” ou coisa parecida, muitas vezes num único semestre, e que, 
frequentemente, se interrompe justamente onde deveria começar: no 
nascimento da Linguística moderna, inaugurada pelos trabalhos de 
Ferdinand de Saussure (publicados em 1916...).
 Com isso, quando se 
veem diante da tarefa de escolher uma coleção de livros didáticos de 
português dentre as que lhe são oferecidas pelo Ministério da Educação, 
essas pessoas quase sempre optam pelas coleções mais conservadoras, 
menos desafiadoras, justamente as que recebem as avaliações menos 
favoráveis da parte dos especialistas encarregados pelo Ministério de 
analisar as obras didáticas disponíveis no mercado. E como poderia ser 
diferente se, em sua formação acadêmica, esses professores jamais foram 
apresentades aos critérios usados pelo MEC para avaliar livros 
didáticos, se jamais entraram em contato com as teorias de 
ensino-aprendizagem de língua materna que sustentam hoje em dia as 
políticas oficiais de educação linguística?
 Além desses problemas 
que têm a ver com a própria estrutura dos cursos de Letras, existem 
outros, mais amplos e muito mais trágicos. E o mais grave deles se 
resume na seguinte frase, tirada de uma notícia de jornal:
 Somente 
25% dos brasileiros que têm entre 15 e 64 anos dominam a leitura e a 
escrita, de acordo com resultados do 5º Inaf (Indicador Nacional de 
Alfabetismo Funcional).
 
 Em qualquer país que tivesse uma 
história educacional diferente da brasileira, isto é, em qualquer país 
onde a educação fosse uma verdadeira prioridade nacional, uma notícia 
como essa teria o efeito de um terremoto de proporções arrasadoras. Mas o
 que estou dizendo? Em qualquer país onde a educação fosse uma questão 
nacional de primeira ordem, uma notícia como essa jamais seria 
publicada! E o pior é que essa notícia se refere aos resultados do Inaf 
(Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional) em sua edição de 2005. Em 
2012, com os novos dados do Inaf, a situação catastrófica descrita 
permanece inalterada, sete anos depois: 75% dos brasileiros entre 15 e 
64 anos são analfabetos funcionais. A notícia foi publicada. Não 
aconteceu nenhum terremoto e, pelo visto, ninguém se apavorou a ponto de
 merecer destaque na imprensa. Afinal, a nossa imprensa só se preocupa 
em mentir e deformar a opinião pública com histórias que ela mesma 
inventa e transforma em minisséries ou novelas de sucesso.
 O quadro 
absolutamente precário do alfabetismo no conjunto geral da população 
brasileira se reflete também no conjunto menor do nosso professorado. O 
desprestígio que vem acompanhando fielmente a profissão docente nas 
últimas quatro ou cinco décadas — devido à degradação progressiva e 
permanente das condições de trabalho e aos salários aviltantes — tem 
levado a uma redução drástica do contingente de pessoas bem formadas, 
bem letradas e de origem socioeconômica privilegiada (classes médias e 
médias altas) que querem se dedicar ao ensino básico. Daqueles 25% de 
brasileiros com nível pleno de alfabetismo, quantos estão hoje em sala 
de aula de escolas públicas? Abandonados por essas camadas sociais, os 
cursos superiores voltados para a formação de professores são procurados
 cada vez mais por pessoas originárias de grupos sociais em que as 
práticas letradas (leitura e escrita) são muito restritas, quando não 
são praticamente nulas. É o que podemos ler nesta outra reportagem:
 O
 professor formado pelas universidades brasileiras é filho de pais que 
nunca foram à escola ou nem sequer completaram os quatro primeiros anos 
do ensino fundamental. Vive em famílias com renda inferior a R$ 
1.800/mês e estudou sempre em escola pública. [...] O questionário 
socioeconômico do provão de 2001 do Ministério da Educação mostra que os
 formandos de cursos como pedagogia, letras, matemática, biologia, 
física e química (os mais procurados pelos que pretendem ser 
professores) têm perfil distinto dos que saem de cursos mais 
concorridos, como medicina, ou de oferta mais comum nas faculdades, como
 direito e administração.
 
 Esses números significam muita coisa.
 Significam que esses estudantes têm um histórico de letramento muito 
reduzido: no ambiente familiar, não convivem com a cultura letrada, não 
têm acesso a livros, revistas, enciclopédias etc., não são falantes das 
normas urbanas de prestígio (as mesmas que supostamente terão de ensinar
 a seus futuros alunos) e têm domínio escasso da leitura e da escrita. 
Só na faculdade é que a maioria dos estudantes de Letras vai ler, talvez
 pela primeira vez na vida, um romance inteiro ou um texto teórico mais 
complexo. As pessoas que atuam em nossos cursos superiores de Letras, 
porém, fazem de conta que esses estudantes são ótimos leitores e 
redatores e despejam sobre eles, logo no primeiro semestre, teorias 
sofisticadas, que exigem alto poder de abstração e familiaridade com a 
reflexão filosófica, junto com textos de literatura clássica, escritos 
numa língua que para eles é quase estrangeira. E assim vamos nos 
iludindo e iludindo os estudantes. 
 O resultado, volto a insistir, é
 que grande parte dos futuros professores de português saem diplomados 
sem saber linguística, sem conhecer a tradição gramatical, sem saber 
teoria e crítica literária e sem conseguir escrever adequadamente um 
texto de qualquer gênero mais monitorado. Todos os dias, eu recebo 
mensagens de formandos de vários pontos do país que me pedem sugestões 
de temas e de leituras para seus trabalhos de conclusão de curso. Alguns
 até me enviam seus projetos: são textos repletos de erros primários de 
ortografia, pontuação, sintaxe, vocabulário, com frases truncadas e 
desconexas, além de abordagens teóricas pobres, superficiais, quando não
 distorcidas, reveladoras das grandes dificuldades de leitura e 
compreensão de textos teóricos mais densos. É assim que essas pessoas 
chegam ao final do curso, e suas monografias, mal escritas, sem nenhum 
rigor teórico ou metodológico, são aprovadas alegre e irresponsavelmente
 por seus (supostos) orientadores. E a coisa prossegue no Mestrado e no 
Doutorado, onde são aprovadas dissertações e teses que não poderiam 
servir nem como trabalho de disciplina de graduação.
 O problema, é 
claro, não está no fato de acolhermos na universidade pessoas vindas das
 camadas mais desfavorecidas da população. Ao contrário, isso tem de ser
 amplamente comemorado. O problema é não oferecermos a essas pessoas 
condições de, primeiramente, se familiarizarem com o mundo acadêmico, 
que é totalmente estranho para elas, por meio de cursos intensivos (e 
exclusivos) de leitura e produção de textos, de muita leitura e muita 
produção de textos, para só depois desses (no mínimo) dois anos de 
preparação elas poderem começar a adentrar o terreno das teorias, das 
reflexões filosóficas, da literatura consagrada. É urgente a necessidade
 de letrar os estudantes de Letras que estão entre os menos letrados da 
universidade! É por isso que as salas de aula do ensino básico estão 
ocupadas por professoras e professores que, mal sabendo ler e escrever 
adequadamente, não poderão desempenhar sua principal tarefa: ensinar a 
ler e a escrever adequadamente! 
 Eu fiz uma pesquisa sobre como 
escrevem as professoras e professores de português do Distrito Federal. 
Coletei centenas de textos escritos por essas pessoas e o que tenho em 
meus arquivos é uma demonstração concreta de tudo o que falei até agora:
 mais de 80% de textos incompreensíveis, sem os requisitos mínimos de 
coesão e coerência, repletos de erros ortográficos, de pontuação, de 
concordância e por aí vai. Se assim escrevem os docentes, como podemos 
esperar que seus alunos possam aprender a escrever?
 Por isso, 
aproveito esse momento em que estou falando diretamente aos estudantes 
de Letras para pedir que vocês se conscientizem de todos esses graves 
problemas que são, como sempre, problemas de ordem política e que 
precisam de uma solução política. Organizem-se, reivindiquem seus 
direitos, exijam uma transformação radical na estrutura mesma do curso, a
 começar pelo nome, que é uma vergonha para qualquer curso que pretenda 
ter uma natureza minimamente científica. Exijam que a universidade 
ensine a vocês o que vocês precisam aprender para atuar em sala de aula.
 E exijam também condições de trabalho dignas para nossos professores, 
salários decentes, investimento contínuo e crescente na educação. Não 
adianta nada o Brasil ser a 7a economia do mundo capitalista e ocupar ao
 mesmo tempo o posto número 65 no índice de qualidade de educação 
estabelecido pelas Nações Unidas. Estamos bem atrás da Argentina, do 
Chile e até mesmo da Bolívia, o país mais pobre da América do Sul. 
 O
 Brasil tem avançado muito nos últimos dez anos. Mas esses avanços foram
 conseguidos a duras penas, por meio de um reformismo social aliado a um
 pacto conservador. No campo da educação, as coisas estão estagnadas. Há
 mais de dez anos o índice de alfabetismo funcional não se move: 75% dos
 brasileiros entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais. E se nós, 
comprometidos com a educação, não fizermos nada, certamente não será 
esse pacto conservador que vai fazer. Obrigado.