segunda-feira, 12 de abril de 2010

A descaracterização e banalização do "amarelo"

É, mais um vez o problema está no humano e suas relações sociais, na verdade a cor amarela em si não mudou, o aspecto social é que a deturpa.

Há muito, tenho notado que o "amarelo" já não é o que era antes. Naquele bendito livrinho de "regras", o amarelo é uma advertência séria, é algo a ser levado em conta, a ser respeitado, e que forçosamente muda nossa atitude quando este então se faz presente. Mas no dia a dia, a coisa não é bem assim.

Comece a reparar, quando o amarelo surge no semáfaro, em bom paulistanês farol, a esmagadora maioria, em vez de assumi-lo como um alerta, diminuir a velocidade e parar, faz o contrário, pisa fundo, como se fosse o verde, e aproveita o "resto" de tempo para passar o cruzamento. No trânsito, de fato a ansiedade, a má educação, o individualismo e estresse imperam. Mas não são desculpas para a inversão de valor. Valores? Hoje em dia? Então de um lado há aquele que acelera e do outro o ansioso que acelera também, resultado: crash!

E no futebol então?! O amarelo é uma coisa séria, com consequências imediatas e posteriores ao jogo em que o dito apareceu. É um freio psicológico grande. Muda o jeito de jogar, de se comportar, muitas vezes não só de caráter individual mas também coletivo, já que em um jogo de futebol o individual e o coletivo rivalizam e se completam ao mesmo tempo, ora um com mais importância, ora o outro. Mas ao que assistimos nos dias de hoje no futebol brasileiro, e talvez um pouco mais no paulista, é a descaracterização dessa ação de "amarelar" e de "ser amarelado". Em tempos de mediocrização, confunde-se o amarelo com o aspecto viril, com um possível cálculo errado de velocidade e tempo, com a vontade de vencer, de ter a bola para si, enquanto muitas vezes lances de má intenção, de maldade mesmo, de cotovelos na cara com a desculpa de proteger a bola passam despercebidos pelo "amarelo". Jogador de futebol não é de vidro. Soma-se a isso o despreparo intelectual dos árbitros, dá no que dá. Em lances de aplicação pura da regra, não há o que se discutir. Mas em lance de interpretação, há um leque vasto de opções de caracterização, e para interpretá-lo há a necessidade de alguma experiência, sensibilidade, coerência, certa malandragem, confiança e não somente conhecimento das regras do esporte em si. Há sim falta de preparo intelectual, de bom senso e de sensibilidade por parte de todos, de árbitros então nem se fala!

Parece um pouco com o jeito que o pais tratam as crianças hoje em dia. Sou do tempo, um tempo nem tão distante assim, em que uma advertência da minha mãe ou do meu pai era de fato uma advertência, e ai de mim se passasse do limite, tomaria o "vermelho" com certeza, seja lá de que forma e onde fosse, a"vermelhidão" educava! Hoje não, os pais não impõem tais limites, mas apresentam a advertência, o "amarelo", sem serventia, de forma banalizada e descaracterizada, pois o segundo "amarelo" teima em não aparecer, assim o "vermelho" não surge, e segue o jogo. Muita conversa, pouco "amarelo" de fato e o "vermelho" quase ausente.

Que fase.

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