sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Psiu! Ouça.

Feche os olhos. Se conheces um pouco de teoria musical e um piano, imagine a transformação de cada símbolo de uma partitura no respectivo som quando cada tecla branca e preta é pressionada, iniciando todo processo mecânico, mas cheio de sentimento, passando pelo toque do martelo da máquina em uma ou mais cordas de aço, que dentro de uma caixa de madeira ressoam como toques de um anjo que por fim atingem os ouvidos e quiçá a alma daqueles que ainda possuem alguma sensibilidade.

Assim é o passeio das mãos num teclado de piano, que acaba por tocar a alma, que faz bailar ao som de uma valsa, que faz tremer ao som de uma rapsódia, que faz chorar ao som de um prelúdio ou de uma sonata, que faz sorrir ao som de um scherzo e que faz sentir através de todos eles.

Arte pode ser discutida, mas música, antes de tudo, deve ser sentida, e originar algum processo interno àquele que a ouve, seja qual ele for, algo deve acontecer dentro de cada um ao ouvir determinado som, enquanto humano.

Ah, caro leitor(a). Podes pensar que se trata de romantismo fora de época, como se houvesse uma só época para ser romântico, de ilusão, de perda de tempo, de algo ultrapassado. Não tenho pena de quem pensa assim, ou parecido, pois a pena sugere algum conceito de superioridade de quem a sente em relação a quem é destinada. Mas há sim algum sentimento, de tristeza, talvez, por ver cada vez mais o mundo menos ligado aos valores que interessam, aos sentimentos bons, à sensibilidade de entender cada som, por mais desconhecido que ele seja, de sentir, de experimentar, de ouvir e falar menos.

Mesmo o silêncio tem suas virtudes.

(Ao som de Chopin, Valsa opus 69, n.º 2, intérprete: Vladimir Ashkenazy)

Um comentário:

Anônimo disse...

Não consigo fazer isso :( não sei tocar piano...rs