VLADIMIR SAFATLE
Um muro
Em
 seu discurso da vitória na eleição para prefeito de São Paulo, Fernando
 Haddad lembrou dos muros da desigualdade a que a cidade está submetida.
 Este tema dos "muros" merece, de fato, ser mais discutido, pois eles 
conseguem se perpetuar ao longo das sucessivas administrações que passam
 pela prefeitura.
Um
 dos muros mais impressionantes de São Paulo é aquele que isola seus 
intelectuais do debate sobre os rumos da maior megalópole do hemisfério 
Sul.
Na
 cidade de São Paulo encontra-se, por exemplo, a mais importante 
universidade da América Latina, responsável por algo em torno de 25% das
 pesquisas acadêmicas desenvolvidas no país. Só para se ter uma ideia 
desse peso proporcional, a mais importante universidade dos Estados 
Unidos (Harvard) responde por apenas 3% da pesquisa realizada nas 
universidades norte-americanas.
A
 cidade, no entanto, costuma não ouvir sua maior universidade quando 
procura por ideias e soluções para seus problemas. Ela despreza parte 
significativa de sua inteligência e não sabe utilizar a força crítica de
 seus acadêmicos a seu favor.
As
 inúmeras pesquisas desenvolvidas pela universidade sobre política 
cultural, planejamento urbano, impacto de medidas de segurança, 
problemas em práticas educacionais e políticas de direitos humanos são 
vistas pelos poderes públicos com desconfiança, já que nem sempre elas 
são laudatórias.
Um
 novo momento da política brasileira passa necessariamente pela 
definição de relações entre administradores que devem resolver problemas
 públicos complexos e intelectuais independentes que marcaram sua 
atuação profissional pela procura em aprimorar sua capacidade crítica.
Muitos
 temem que isso seja uma forma insidiosa de "cooptação". Melhor seria 
lembrar que todos os países que realizaram verdadeiro desenvolvimento 
social só o conseguiram quando tiveram figuras públicas dispostas a 
escutar o que seus intelectuais e artistas tinham a dizer -mesmo que 
essas falas nem sempre fossem música para os ouvidos dos que estão do 
outro lado. Há uma escuta do dissenso que deve ser aprendida.
No
 momento em que o poder público volta a enxergar os muros da cidade, a 
universidade pode ser um importante ator de transformação social.
Se
 parte significativa da inteligência nacional está em São Paulo, é 
burrice continuar ignorando-a a fim de repetir os erros de sempre.
Colocando-se
 para além dos partidos e das filiações partidárias, ela sempre teve um 
poder de transformação menosprezado. Não há por que dar sequência a esse
 menosprezo.
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